O Tietê que ninguém conhece

S.O.S. Rio Tietê

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Retificação e Decadência

Nas primeiras décadas do século XX, desenvolveu-se o mito “São Paulo não pode parar”. Este processo de ocupação territorial e de industrialização ocorreu de forma “caótica”, não levando em consideração a sustentabilidade da cidade e sua qualidade de vida. O meio ambiente acabou sofrendo as marcas deixadas por esse “progresso”, com a ocupação de vales e escarpas, contribuindo para a impermeabilização dos terrenos.



A preocupação com a retificação do Tietê é bem antiga. Em 1866, o então presidente da Província de São Paulo, João Alfredo Correia de Oliveira, afirmava sua necessidade, a fim de utilizar os terreno das várzeas do Tamanduateí e do Tietê.

No final do século XIX a administração pública encarregou-se da organização de uma Comissão de Saneamento que estabeleceu o Tietê como responsável pelas cheias. Já na década de 20, surgiu a Companhia de Melhoramentos de São Paulo que reuniu sanitaristas e engenheiros que defenderam a necessidade de retificação do curso sinuoso do rio, além do desassoreamento de seu leito. No comando dos trabalhos estava o engenheiro sanitarista Francisco Rodrigues Saturnino de Brito, autor de diversos estudos sobre o Tietê.

Em relatório publicado no ano de 1926, Saturnino previa a preservação das áreas alagadas, as chamadas “coroas”, como recurso natural para ajudar na contenção das enchentes e servir de referência dentro da paisagem do parque fluvial urbano por ele imaginado para São Paulo. O seu projeto visualizava um grande parque metropolitano que seria a faixa do leito maior, preservado como várzea ao longo do rio para as grandes vazões do Tietê na época das cheias. Na foz de cada afluente deveria ser preservada uma área para constituir um lago. Assim, se formariam dois lagos, de 3 km de extensão por 1 km de largura, com uma ilha no meio.

Saturnino apontava as necessidades de preservação dos rios Tietê, Pinheiros e Guarapiranga como indispensáveis ao abastecimento de água não só na Capital como de grande parte do interior do estado. Previa, ainda, a construção de um emissário na Serra do Mar para o tratamento do esgoto em lagoas litorâneas.



O projeto de Saturnino de Brito foi descartado pela administração seguinte que preferiu implantar o “Plano de Avenidas”, elaborado pelo engenheiro - mais tarde prefeito de São Paulo, Francisco Prestes Maia, coordenador da Comissão de Melhoramentos do Rio Tietê. Essa comissão cuidou ainda do aproveitamento da várzea, projetando a construção de duas extensas avenidas marginais e de 20 pontes de concreto armado, permitindo, com isso, sua ocupação por loteamentos e logradouros públicos, além da instalação de um grande terminal ferroviário que centralizaria as comunicações com a Capital.

A várzea do Tietê não foi mantida, fez-se a canalização, e o rio sofreu com a instalação de empresas ao longo de suas margens. Assim, o processo de destruição da paisagem natural se baseou na ocupação do seu leito maior e no confinamento de suas águas em estreitos canais retificados. A ideia era construir uma avenida paralela ao canal do rio, uma rodovia urbana.

A opção escolhida foi intensificar a velocidade de vazão das águas, aumentando a declividade com a retificação do rio; e, depois, aterrar o máximo possível o antigo leito maior (as várzeas), a fim de , posteriormente, depois lotear e vender áreas públicas.



O Tietê foi, assim, progressivamente sufocado pelo suposto “progresso” com a ocupação de suas várzeas, ocupação territorial, demográfica e industrial, sem controle. Os loteamentos se sucederam sem respeitar uma lógica ordenadora da cidade, mas levando-se em consideração apenas os interesses econômicos.

A partir daí, o rio caracterizou-se por problemas, os mais famosos: enchentes e poluição. As enchentes sempre foram constantes. O Tietê invadia suas várzeas e formava depósitos de moscas e pernilongos. Ocorreram enchentes históricas como a catastrófica de 1929 e, sucessivamente, os paulistanos sofrem com as cheias principalmente pela intensa urbanização que reduziu a área de absorção das chuvas, e por muitos planejadores terem desprezado a distribuição lógica das áreas de contenção das águas fluviais.

No que se refere à poluição do rio, embora hajam considerações a respeito já no século XVII, sobre exploração de ouro, o problema se agravou com o processo de industrialização. A cidade cresceu de forma desorganizada, sendo descarregados os esgotos industriais e ocupadas as suas várzeas. Nos anos 40 e 50 a situação fica ainda pior, quando o prefeito Adhemar de Barros resolveu interligar as redes de esgoto sanitários da cidade, fazendo-as desembocarem no Tietê.

No início dos anos 80 já era um rio imundo e mal cheiroso. Os biólogos assinalam que o Tietê foi submetido a dois processos: poluição e contaminação. Quem contribui para a poluição? Esgotos industriais, mas também a população principalmente utilizando o rio como depósito de todo tipo de coisa.

Retificação e Decadência = Rio Tietê

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